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Em 1984, a Cooperativa Paulista de Teatro ocupava o teatro João Caetano em São Paulo, e promoveu duas oficinas de criação: uma com o grupo Ornitorrinco, que encenou Ubu Rei, de Alfred Jarry, dirigida por Cacá Rosset e outra com artistas independentes para estudar a obra de Antonin Artaud, sob a coordenação de Francisco Medeiros e José Rubens Siqueira.

 

A ideia era encenar o único texto dramático completo de Artaud, Os Cencis, seguindo seu método de encenação, O teatro e seu duplo.

 

O estudo sistemático desta última obra deixou claro, porém, que os artigos contidos em

O teatro e seu duplo não constituem um método sistemático de criação teatral à maneira de Brecht ou Stanislavsky, mas sim um conjunto originalíssimo de reflexões sobre o processo artístico, profundamente vinculado à vida pessoal de Artaud.

 

Na época, antes da Internet, as obras de Artaud eram uma raridade, havia pouca coisa traduzida, sobretudo por Teixeira Coelho, a própria editora Gallimard francesa não havia editado a obra completa e a importação era cara e demorava meses para chegar através da Livraria Francesa

Registro na Biblioteca Nacional 721.728

ARTAUD - O ESPÍRITO DO TEATRO

Registro na Biblioteca Nacional 377.989

À MARGEM A. ARTAUD

Registro na Biblioteca Nacional 561.056

ARTAUDBIOGRAFIA

MONTAGENS

Montagem

de 1984

Montagem

de 1998

Montagem

de 2004

Por aqui, uma ou outra pessoa possuía algum volume no original francês. Bia Berg, parceira, embora não participante do processo, emprestou um ou dois, outros foram garimpados em outras fontes.

O grupo mergulhou num estudo amplo e profundo do universo poético de Artaud e sentiu que o que faria mais sentido naquele momento em que começava a se divulgar sua obra no Brasil, era compor uma biografia de Artaud por ele mesmo, juntando fragmentos de textos diversos, buscando a coesão entre vida e obra que aflorava de uma leitura extensa e atenta do que ele produziu.

Havia um interesse especial pelo programa de rádio que ele escreveu e dirigiu em 1947 e foi proibido pela censura na França. Hoje disponível na Internet, na época conseguiu-se que alguém emprestasse uma fita cassette por um dia apenas, com o compromisso de não copiar o material.

O regime de trabalho da oficina era muito intenso. Os ensaios no teatro João Caetano aconteciam das 9 da manhã à 1 da tarde, horário que os funcionários estavam acostumados a ter o teatro só para si em função da limpeza e conservação e não era raro atravessarem ruidosamente com baldes e vassouras o ensaio de uma cena. A participação deles passou a ser parte integrante do espetáculo, na figura dos enfermeiros, ampliada pela utilização de ruidosos tamancos de madeira.

Antes do computador pessoal, os textos eram traduzidos durante a tarde e a noite, datilografados com cópias em papel carbono, lidos, analisados pelo elenco e pelo diretor de manhã e ao longo da tarde recebiam tratamento cênico a ser finalizado no dia seguinte. Para o autor era um privilégio ver os personagens saírem do papel e ganharem vida de um dia para o outro.

Logo que foram levantadas as primeiras cenas, passou-se a fazer ensaios abertos às

segundas feiras à noite, com entrada franca. A cenas ainda não tinham continuidade, fazia-se uma, em seguida o dramaturgo ou o diretor explicavam ao público o que viria a seguir, ainda em preparação, às vezes ainda nem traduzido, e engatava-se com outra cena já levantada.

E aí começou uma inesquecível aventura teatral: o público do bairro, senhoras que voltavam da padaria, mães com crianças, senhores de terno voltando do trabalho, estudantes de várias idades, começaram a frequentar os ensaios abertos e participar dos debates ao fim de cada sessão.

Capital para esse processo foi a presença assídua de Fauzi Arap que com a agudeza de

sua visão teatral muito contribuiu para os debates, ao lado das opiniões sinceras, cândidas

mesmo, do público pouco afeito aos estágios do processo de criação cênica.

Semana a semana o espetáculo ganhava corpo e crescia, assim como o número de espectadores.

E aproximava-se o momento final: assim que estivesse pronto e se fizesse a sua apresentação completa, a oficina de interpretação e dramaturgia se encerrava e a carreira da peça acabava.

Não foi, porém, o que ocorreu. O espetáculo entrou em cartaz em horário alternativo depois de enfrentar uma patética proibição da censura militar que já havia sido extinta na época.

A estreia se deu sob um clima de tensão, com a presença de nomes importantes

e tradicionais do teatro em defesa da liberdade de expressão recém conquistada naquele

duro e demorado final da diradura militar (veja material abaixo). Dentre o público numeroso,

surgiram vozes radicais discordantes da linha do espetáculo, que achavam trair,

por sua clareza, o espírito do teatro da crueldade de Artaud.

Mas para os artistas que participaram da experiência, para a multidão que assistiu

à temporada e para os críticos, Artaud, o espírito do teatro, naquele momento social e cultural, apresentava ao público um perfil desconhecido e poético, intenso e extremamente teatral

de uma das figuras fundamentais do teatro moderno no Ocidente.

FICHA TÉCNICA

Tradução e dramaturgia               José Rubens Siqueira

Direção                                            Francisco Medeiros

Preparação corporal      Sônia Motta e Tânia Bondezan

Cenário e figurino                        José Rubens Siqueira

 

Iluminação e trilha sonora

Francisco Medeiros e José Rubens Siqueira

Assistente de direção                              Edith Siqueira

Fotos                                                              Ary Brandi

 

Elenco

Ana Maria Braga                                          Ary França

Elias Andreatto                               Giuseppe Oristanio

Gabriela Rabelo                                       Haroldo Botta

José Rubens Siqueira                           Tânia Bondezan

 

Artaud - O espírito do teatro teve uma

segunda montagem, também dirigida por

Francisco Medeiros na Escola de Arte Dramática da USP (veja ficha técnica completa abaixo)

 

O material traduzido para o espetáculo Artaud -

O espírito do teatro foi reunido numa apostila publicada pela Cooperativa Paulista de Teatro

e serviu para duas adaptações posteriores

À margem A. Artaud encenada com alunos

de Artes do Corpo da PUC em 2004 e 

Artaudbiografia, uma coletânea a ser finalizada como monólogo na encenação.

Os três textos se encontram aqui disponíveis,

o primeiro em fac-simile com duas camadas de anotações manuscritas, das duas montagens.

GALERIA 1984

Fotos Ary Brandi

CLIPPING 1984

 

GALERIA 1998

GALERIA 2004

LEITURA - PARCIAL - 2023

ARTAUD - O ESPÍRITO DO TEATRO

 
 
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